Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer(...) Fernando Pessoa
sábado, 17 de abril de 2010
A utopia do amor romântico.
O amor dos contos de fadas só tem final feliz nas paginas ilustradas e lúdicas dos livros infantis. E não é uma visão pessimista, reflito apenas o que a maturidade (ainda que nem tanto de idade) emocional hoje me permite. Aquele retrato perfeito de amor incondicional, onde tudo são somente flores, tudo emana frescor e novidade, é de uma ilusão que prende a gente em um círculo de frustrações contínuas, e nos impede de viver feliz ao lado de outro ser e em um mundo real feito de pessoas reais, assim como eu, assim como você. Um tipo de amor muito mais real e possível de se viver é o amor companheiro, que une pela parceria, amizade, pela consciência, pela admiração, é o amor onde a troca estimula o crescimento do casal e nunca os estagnam. E onde temos a consciência da realidade (dura) da vida e ainda sim desejamos encarar a mesma ao lado de outro alguém, outro disposto consciente de suas limitações e ainda assim com vontade de fazer a diferença em nossa vida. Não em promessas de amor eterno, e sim com realizações e atitudes de afeto no hoje, neste momento, pois é ele que vale.
No estágio atual, com está gama de defeitos e inconstâncias que possuímos, com o bombardeio egocêntrico que a contemporaneidade nos impõe, neste mundo impessoal e descartável, onde a instituição família faliu pela completa dissolução dos valores morais, onde o sexo se banalizou ao limite extremo, onde os instintos primários navegam por nós sem controle, onde até o dito “sentimento” foi pasteurizado e industrializado e rende milhões de reais por ano em datas comemorativas repletas de presentes materiais e ocas de verdade e amor. Neste mundo tal qual conhecemos hoje, não temos a menor condição de viver algo semelhante aquele conto de fadas que idealizamos desde jovens e que devido a todos os fatores acima listados, tornou-se apenas uma sombra combalida de uma ilusão inalcançável e fonte irrestrita de sofrimento para quem dela ainda se alimenta.
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